Simples para se poder saborear o autêntico, ou com todo o tipo de temperos para um sabor mais complexo?
Hoje celebra-se o último grande feito da nação. Uma revolução popular que acabou com uma ditadura de mais de cinquenta anos e impôs o exercício de uma democracia moderna. Dito assim, parece um feito curriqueiro, daqueles que se pode observar quase todos os anos um pouco por todo o terceiro mundo, como foram os casos dos países árabes recentemente.
As semelhanças são só superficiais, o 25 de Abril foi um feito inédito e uma demonstração que os portugueses são capazes de se posicionar entre os povos mais evoluidos do mundo. O poder regente foi destituido por via da força, mas nunca se recorreu à violência. Uma vez deposto, foi substituido por uma comissão provisória que segurou a passagem ao processo democrático.
O país saíu à rua para festejar, mas fê-lo de forma civilizada e não desatando ao tiro e à porrada como se vê pelos países atrasados. Houve alguns actos de vingança por parte de grupos oprimidos durante a ditadura, mas a lei e a ordem funcionaram, reduzindo-os a uma minuscula onda de violência que foi rapidamente controlada e confrontada perante a justiça.
Por todos estes motivos, devemos, enquanto portugueses, estar orgulhosos. Mas será que ainda temos motivos para festejar? Ou será que o que foi conquistado já se perdeu?
A liberdade de expressão, no sentido último, ainda a temos. Toda a gente é livre para se reunir para debater os temas que lhe der na real gana. Fundamentalmente, toda a gente é livre de ter a opinião. Isto é sem dúvida importante, mas o conceito de democracia não se esgota aqui.
As vias de acesso à riqueza estão completamente na mão de um compadrio que vive à custa dos portugueses e goza com eles diariamente. Não é uma questão de direita ou esquerda, é falta de honestidade, falta de princípios, falta de ética.
Recentemente, o governo decidiu remover feriados nacionais. A forma como o 25 de abril não entrou sequer em discussão, é sintomática. Não se trata de ser mais ou menos importante que a implantação da república ou que a restauração da independencia, isso teria que ser submetido a um critério o mais objectivo possível, o problema é que ninguem ousa discutir porque não são capazes de o fazer de forma objectiva. Quem defender a remoção do feriado a 25 de abril é rapidamente chamado de fascista, salazarista, e quem se levantar pelo 25 de abril é logo comunista e come criancinhas ao pequeno almoço.
Pessoalmente conheço nacionalistas de direita e comunistas. Ambas as espécies são ricas em extremos. Ambas têm cabeças do mais funcional que existe, com visões claras da sociedade, e ambas têm grandes bestas que pensam que a soiedade é um jogo de futebol e que enquanto adeptos de uma equipa, devem dar porrada uns aos outros.
Ao leitor, deixo este apelo:. Não caia na ilusão do 25 de Abril à sua medida, é só uma ilusão. O 25 de Abril há muito que deixou de ser um dia a festejar, hoje é só um dia de lembrar. Uma espécie de memorial à liberdade que já tivemos.
Em vez de "25 de Abril Sempre!" proponho "em memória da democracia".
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Será que existe mesmo liberdade no seu sentido mais lato? Sim, porque a tua liberdade começa onde acaba a minha...
FireHead,
Já muito se perdeu desde o 25 de abril infelizmente. Há meia dúzia de valores simbólicos que persistem como sagrados, mas mesmo esses já está muito detiorados na sociedade actual.